A Vida sem TV
Abaixo temos três relatos que apareceram
na lista de discussão sobre
a vida sem TV. Segundo estes, uma melhor qualidade de vida pode passar
pelo botão de liga/desliga do seu aparelho de televisão.
Confira e mande seu comentário, a favor ou contra (ajude a
enriquecer esta página!).

Quadrinho do cartunista Laerte (www.laerte.com.br)
Relato 1
Pessoal,
Primeiramente, deixem eu me apresentar: sou
Aninha, fiz psicologia na Federal e estou fazendo mestrado na UnB.
Fiquei interessada quando eu vi um comentário a respeito de
violência, pois meu tema de dissertação é
violência contra as crianças.
Mas curti mesmo a ênfase no uso da televisão.
Tenho conhecido um pessoal aqui em Brasília que não
tem TV em casa. A princípio, fiquei meio desconfiada, me perguntando:
o que eles fazem quando estão em casa ou quando não
tem o que fazer?
Tentei responder essas perguntas observando meus hábitos. Percebi
que usava a TV ora para fugir de uma leitura obrigatória do
mestrado, ora para fingir que estava relaxando, "espairecendo". Dá
pra ouvir uma boa música, ler, fazer yoga, conversar com um
amigo, estudar, cozinhar, dar uma caminhada pelo bairro, olhar a paisagem,
as pessoas e a rua onde vc mora, sei lá. Dá pra fazer
mil coisas sem precisar da TV.
Concordo com o Dion quando ele diz que perdemos alguns bons programas
da TV Cultura, mas ganhamos com outras coisas.
Por exemplo, tenho me reunido com esse pessoal que aboliu a TV de
casa (um artista plástico, um escritor e uma garota que faz
performances e é modelo para desenhistas)pra ler em grupo
(a gente escolhe o livro e fica lendo, bebendo chá,...), pra
dançar na sala da casa da garota, pra ver a lua na beira do
lago paranoá, pra fazer "dinâmicas" de grupo (que enfatizam
o toque, o contato).
Na verdade, temos buscado um contato maior entre as pessoas. Quando
digo contato, é olhar nos olhos, sentir o outro, tocar, abraçar,
retomar algo que é natural do ser humano - o carinho, o toque
carinhoso.
A TV nos distancia das pessoas e de nós mesmos (como já
disse a Dani X em outra msg).
A questão vai além de ter ou não TV em casa.
Na minha opinião, o lance é: o que estamos fazendo por
nós mesmos, pelo nosso bem- estar físico, mental e emocional?
O que temos feito para não nos distanciarmos tanto das nossas
emoções e dos nossos prazeres?
Gostaria de fazer uma sugestão a todos: qualquer dia, quando
forem ligar a TV, tentem fazer algo diferente, sair do habitual inovar.
Isso dá uma energizada na vida.
E que tal se reunir com algum (ns) amigo (s) e fazer algo diferente
com alguém de quem gosta?
Beijinhos
Até a próxima
Aninha
Relato 2
Sobre o que a Dani X falou da televisão,
eu gostaria de colocar minha experiência:
Sou um TVólotra, isto é, fico completamente ipnotizado
com aquela
"lareira que queima nossas almas" (citando Geraldo Azevedo). Então
um
dia resolvi fazer como os que querem parar de beber: não tem
meio termo,
corta-se fora o hábito.
Devo assistir TV uma quatro vezes por semestre, muitas vezes por
distração. Procuro ler o jornal pelo menos duas vezes
por semana, mas
umas passadas na Inet (a www.radiobras.gov.br traz sinopses). Assim
tenho vivido à anos sem televisão.
Claro, a gente "boia" quando a turma do trabalho comenta sobre a
"Tiazinha" e não se tem a menor idéia do que se trata.
Também tem uns
programas da Cultura que dá pena perder. Mas creio que as sortes
têm
compensado os revezes de longe!
E vocês, como têm usado a tevê?
Dion
daniela Souza wrote:
A tendência natural é perguntar
o porque de tanta divulgação da
violência, e aí o Dion já deu uma luz. Mas também
me pergunto porque que a
gente precisa ligar a televisão todos os dias... será
que é para não pensar
na violência diária, que recebemos do governo, do capital
estrangeiro, do
patrão, do motorista do ônibus, do trombadinha, e da
gente mesmo, pq, não só
relacionado à violência, mas quando deixamos de viver
para que os
personagens da novela vivam pela gente, estamos castigando nosso ser,
que
fica coitadinho, espremido entre o trabalho, a televisão, e
outros. O que
vcs acham?????
Acabei de fazer um desabafo, acho que
é estresse da cidade grande...
Daniela
Xavier
Relato 3

Realmente ficamos espremidos com muitas joças.
E a TV ainda é uma delas. Parece que ela um dia até
começou bem, mas as pessoas não acreditavam que aquele
tipo de rádio ia pegar, ou melhor, solapar o cinema como tem
feito. Certamente ela se transformará, assim como o homem.
Está como este, passando por momentos difíceis.
Graças a Deus, pude ter grandes pessoas
por perto, que desde cedo me
alertaram para a necessidade de criticidade e a tv sempre foi alvo
de
estudos. Dos dezoito anos em diante não tive televisão
por perto. Em
nossa república (de estudantes) ninguém tinha cogitado
a hipótese de
conseguir uma. Foi um momento de excepcional alegria. No quarto ou
quinto ano morando na mesma casa apareeu uma P&B (com aparelhinho
de UHF
e tudo!). Não foi jamais ligada (tinha que puxar antena, um
trabalhão).
Me formei e fui ao Rio de Janeiro, precisamente em Bemposta, uma
cidadezinha de 3000 habitantes. A mesma senhora tinha duas casas para
alugar, uma grande por, acreditem, R$ 150,00 e outra menorzinha por
R$
100,00. Só que a menorzinha era muito mais simpática,
com gramado,
árvores de tudo quanto é tipo, frutas, bambuzal, churrasqueira,
riozinho
limpinho a 20m, pasto na montanha do outro lado do rio... Ah, que
saudade! Bom, continuando, quando mostrei minha intenção
em alugar a
pequenininha logo o aluguel pulou de 100 para 150. Puxa vida, assim
não
dá, papo vai, papo vem, ela disse: bom, se você quer
mesmo esse aluguel
por cem reais eu tiro a antena parabólica. Negócio Fechado!
Ela até
assustou.
Como não pegava nenhum canal sem parabólica
e minha intenção era passar
longos anos por lá, percebi alegre que não a teria por
perto de novo, se
assim quisesse (a tv, gente). Mas, meu querido pai, muito zeloso,
trocou
seus eletrônicos e em uma visita sua me presenteou com sua tv
e vídeo
antigos, pois, como disse minha mãe, eu não poderia
ficar tão
desconectado do mundo (?). Assisti a uns vídeos e foi tudo.
Essa tv está na sala agora, em minha
nova casa. Aqui, tenho antenas e
uns nove canais. Como o Dion, fico preso nela se dou a chance.
Como
parece que, para mim, zapear é o problema (pois sempre se acha
algo mais
ou menos interessante que te prende, mas que afinal era uma porcaria)
dei um jeito de ser objetivo com relação a ela (mas
cuidado, não façam
em casa, pode ser perigoso e ainda está em fase de teste!):
só assito a
programas gravados (fujo dos comerciais e do império do tempo
telvisivo), só gravo programas com boas indicações
(bons filmes, bons
documentários, boas entrevistas - jornalismo eu fujo) que encontramos
nos jornais ou na internet e procuro dedicar tempo a um programa no
máximo em um dia, algumas vezes por semana. Mas ao rodar as
fitas pra
frente e para trás localizando o começo da gravação,
naquele tempinho de
alguns minutos, quando a imagem indesejada porém fascinante
brilha
loucamnte como a fogueira que esquecemos de acender, o espírito
se
enfraquece, os músculos relaxam e a bunda vai ao sofá,
em busca de
alguma coisa que nós nunca lá encontraremos.
Beijos e abraços à todos
Cyro
atualizado em 15/12/99 por dion@caferomano.org