Arquitetura Tibá
Por Clara

INTRODUÇÃO
As comunidades ocupam
um espaço geográfico limitado. Algumas são
pequenas e não se extendem além da ocupação
urbana. Outras, além de um centro urbano, têm grandes
zonas rurais que se extendem muito além do que a maioria
dos habitantes conhece.
Esta forma com que
os espaços são ocupados nos ensinam muito sobre
o estado em que a comunidade se encontra. São padrões
de ocupação do terreno que podem conduzir tanto
a harmonia social quanto a fragmentação.
Muitas das dificuldades
e problemas de integração comunitária são
causados por estes padrões que se agravam a medida que
se tornam mais permanentes. (...)
Padrões de ocupação
harmônicos e positivos também são evidentes
em muitas comunidades. Características específicas
que contribuem para melhorar o sentimento comunitário entre
os habitantes, a comunicação e a participação,
tornando as pessoas mais confortáveis e satisfeitas com
o ambiente em que vivem.Algumas comunidades ainda preservam os
largos, praças e coretos tradicionais de uma época
onde as pessoas discutiam em público o seu futuro em comum,
e passavam tardes de domingo observando as crianças e a
natureza no centro da cidade. esta é uma forma antiga de
utilização do espaço comum para o bem comum,
para uma conviv6encia social mais harmônica entre as pessoas.
A medida em que estes espaços foram se tornando propriedade
privada o comum desaparece, seja para abrigar um centro comercial
sem janelas ou ocupado por condomínios exclusivos, o padrão
se reverte e causa disfunção social.
O estabelecimento de
padrões positivos na introdução e utilização
de áreas comuns, e a eliminação dos padrões
críticos negativos ou "anti-comunitários",
são tarefas que devem ser executadas o mais cedo possível
no planejamento promário de qualquer assentamento humano.
Antes mesmo de qualquer outra decisão relativa a divisão
de espaços privados ou edificações. Este
processo é a verdadeira urbanização da vila
de forma a torná-la mais humana, mais que um aglomerado
de casas e estradas. É possível projetar ou re-desenhar
comunidades integradas com o seu meio, onde a população
partilhe uma visão comum. este trabalho, na maioria das
cidades modernas, é relegado aos "especialistas"
diversos, que pouco permitem a participação dos
maiores interessados. (...)
Antes que possamos
estabelecer parâmetros dentro de uma ecovila, precisamos
identificar uma visão global da permanência humana
no mundo. Uma proposta, mesmo que teórica ou utópica,
de uma sociedade ideal, com a distribuição da população
e ocupação ótimos em função
da possibilidade de sustentação permanente. Precisamos
um ponto de vista bioregional que considere a geografia e a forma
do terreno como fundamento essencial no planejamento da ocupação,
de forma que a presença humana contribua para a diversidade
da vida no local.
Uma ecovila deve expressar
a autonomia biológica da região em que se insere.
sem dúvida, a escolha do local para uma nova comunidade
deve respeitar as necessidades dos sistemas naturais da localidade
e, particularmente, adaptar-se continuamente às vocações
específicas de cada micro-região.
Julgando pela observação
de muitas comunidades modernas , tanto nas intencionais quanto
nas incidentais, esta discussão nã parece ter lugar,
pois prevalece um padrão distorcido de paisagismo, no mínimo
inadequado ao clima e à vegetação nativa
ou a topografia local. Mesmo quando a oportunidade existe, a quadrícula
e os ângulos retos se impõem sobre as curvas naturais
do terreno como ícones da estupidez humana.
Dentro da perpectiva
da população, a natureza impõe rígidos
limites quanto ao número de habitantes humanos sustentáveis
em um determinado ambiente. Estes limites devem ser conhecidos,
respeitados e mantidos como premissa básica para a sobrevivência
e o equlíbrio das estruturas sociais. (...)
A comunicação
entre os indivíduos é um ingrediente fundamental
para a saúde social e para o estabelecimento de sistemas
de decisão que reflitam as necessidades coletivas. Assim
concluímos que deve existir também um padrão
numérico quanto a populaçào ideal para que
os processos de manutenção da saúde social
sejam mantidos. Uma sociedade equilibrada não permite que
a capacidades de cada um em mantes relacionamentos sociais com
os demais seja comprometida. O estudo antropológico das
populações nos dá uma refer6encia que pode
ser usada na busca de um número ideal de habitantes para
uma ecovila.
Quadro comparativo entre as populações de assentamentos
(adaptado de Bill Mollison e Christopher Alexander)
No. pessoas
30 a 40 -
Número mínimo de pessoas para cobrir a maioria das
funções humanas.
200 a 300 -
Mínimo para a variabilidade genética humana.
600 a 1000 - Máximo
para o relacionamento pessoal e a representatividade de todos.
1000 a 5000 - Máximo para
uma federação de ecovilas.
7000 a 40000 - Cidades. Funcional apenas se
organizado em vilas ou cooperativas confederadas.
50000 -
Máximo para uma cidade organizada.
(Extraído do artigo "O Espaço e a População
nas Ecovilas", de André L.J.Soares)
Partindo da "Visão" que estabelecemos para o
Tibá :
"amigos e famílias morando próximos uns
dos outros, mas ainda com individualidade, dividindo áreas
comuns que propiciem o convívio, o trabalho e redução
do custo de vida, sem destruir o ambiente"
e tomando como premissa o cuidado em criar um padrão harmônico
de ocupação que priorize valores como "a importância
das relações interpessoais, o respeito à
natureza e a diversidade", pudemos, juntos, começar
a esboçar como seria o espaço físico/arquitetônico
que imaginamos para o Tibá.
Do Número de pessoas: Em torno de 20 famílias (+
ou - 60 pessoas)
Do local: ( aqui entraria o perfil da cidade, que definiremos
através do questionário para avaliação
das qualidades do local)
Da concepção dos espaços:
A ecovila seria concebida, básicamente, como tres áreas
distintas:
1- Área de convivência social
2- Área de moradias
3- Área destinada a agricultura, reflorestamento e preservação.
Permeando essa divisão, existe a proposta de se criar 7
centros principais de convivência e captação
de energia, como os 7 chacras do nosso corpo (Aninha).
1- BÁSICO - Dinheiro, Bens materiais
2- UMBELICAL - Sexualidade, família, filhos -
Símbolo da integração das famílias
3- PLEXO SOLAR - Poder, força, digestão -
o mais importante, a energia que alimenta o grupo.
4- CARDÍACO - Emoções - Integração
do céu e da terra
5- LARÍNGEO - Comunicação
6- FRONTAL - Conhecimento
7- CORONÁRIO - Ligação com Deus,
Espiritualidade
Do design da Ecovila:
O acesso à Ecovila se daria por uma única entrada
onde uma estrada principal atravessa um bosque (nativo ou reflorestado)
levando diretamente ao Centro Umbelical, área de convivência
social onde estariam localizados a recepção bem
como a maior parte dos equipamentos comunitários distribuídos
de acordo com os 7 centros principais descritos acima.
CENTRO UMBELICAL: Ocuparia a área central, onde ficaria
a grande tenda, um ambiente aberto para reuniões, grandes
eventos, fogueira, lazer, feiras, atividades corporais, apresentações
de música, dança, teatro, etc. Aí ficaria
tb a recepção da ecovila, onde as pessoas obteriam
as informações desejadas, teriam acesso a programação
do mês, onde seriam agendadas as visitas, cursos, vivências,
oficinas, palestras, etc.
Em torno de centro, ficariam distribuídos os demais:
BÁSICO: - Atividades profissionais, com atendimento ao
público externo - consultórios, escritórios,
loja de produtos da Ecovila, etc.
- Sala para realização de cursos, palestras
- Administração da Ecovila
- Oficinas de serralheria e marcenaria (localizadas mais distantes
devido ao ruído)
- Ateliês de arte e artesanato - cerâmica, pintura,
desenho, mosaico, fotografia, bambu, madeira, etc.
PLEXO SOLAR : Cozinha e refeitório para moradores e visitantes
CARDÍACO: Espaço para hortas, Jardim de Ervas, Pomar,
Agricultura Orgânica, Apicultura, Coleta Seletiva, Compostagem,
Áreas de Reflorestamento, Áreas de preservação
de matas nativas e manancias.
LARÍNGEO: Espaço para reuniões do grupo,
vivências, atividades coletivas, dinâmicas de grupo,
organização dos documentos da Ecovila.
FRONTAL: Biblioteca, Internet, sala de estudos, escola, ludoteca
(este centro poderia ficar próximo ao BÁSICO)
CORONÁRIO : Pequeno templo ecumênico, espaço
para prática de meditação, Tai Chi, Ioga,
Liangong, dança circular sagrada, etc. (Pode ser ao ar
livre)
Gente, Aninha, tem algumas coisas que eu não soube onde
encaixar, como:
Jardim das brincadeiras (playground), Terapias, videoclube, atelies
de arte (coloquei no trabalho, mas não haveria um espaço
mais voltado a criatividade?),
lavanderia, quadras de esportes...
Obs. Não precisa haver uma separação rígida
entre esses centros (tipo uma edificação para cada
centro), uma vez que haveria uma certa flexibilidade na distribuição
e localização dos equipamentos, seguindo critérios
como ruído, necessidade de isolamento, facilidade de acesso,
proximidade com algum outro equipamento que funcionaria melhor
integrado, etc. Os equipamentos poderiam receber, por ex., cores
relativas aos chacras associando-o ao centro de energia correspondente.
MORADIAS (Umbelical):
Da estrada principal, sairiam estradas mais estreitas que levariam
às moradias sem que as pessoas precisassem passar pelo
"centro" da Ecovila.
A organização espacial do setor de moradias
seguirá 3 ou + propostas diferentes de implantação,
visando atender às necessidades de isolamento ou de proximidade
de cada morador. Assim, teríamos por ex:
-Uma proposta de ocupação em Vilas, com as casas
isoladas dentro dos lotes (que teriam tamanhos variados e irregulares,
com traçado orgânico acompanhando as curvas de nível),
mas com relativa proximidade dos outros moradores, utilizando-se
de cercas vivas para conferir maior privacidade às casas.
- Uma segunda proposta, onde as casas se concentrariam nas extremidades
dos lotes, muito próximas umas das outras, quase coladas,
criando-se uma área central comum de convivencia (um jardim,
por ex.) possibilitando maior contato entre as familias.
- Uma terceira proposta em que algumas casas ficariam localizadas
dentro do bosque, isoladas e com relativa distância entre
elas, o suficiente para que ficassem fora do campo visual e acustico
umas das outras.
- Teríamos ainda a Casa Comunitária, para atender
aqueles que desejam compartilhar uma moradia coletiva ou aos novos
Tibaenses que irão passar por um período de adaptação
e experimentar a viv6encia nas moradias compartilhadas, período
importante para a pessoa amadurecer a idéia de viver em
comunidade. Serviria ainda para as pessoas que vêm fazer
um curso ou estágio no Tibá.
É preciso ter claro que a Ecovila tal como a imaginamos
acima é um projeto a longo prazo. Compraremos a terra e
começaremos a construir o Tibá a partir do zero,
por isso devemos definir os equipamentos que terão prioridade
de construção dentro das etapas que estabeleceremos.
Essa definição deverá ser feita por todo
o grupo.
Num primeiro momento, acho que o mais importante será a
construção da "Casa Mãe" (pode
ser uma casa já existente tb, melhor ainda!), que será
a nossa moradia compartilhada enquanto não dispomos de
condições para construir as nossas moradias individuais.
É ela que possibilitará ao grupo se fixar na terra,
experimentar a vida em comunidade e começar a fazer o Tibá
sair do papel.
Feito isso, o primeiro centro a ser construído seria o
Umbelical, com a grande tenda central, um espaço versátil
que poderá no início englobar outros equipamentos
e suprir as necessidades espaciais do Tibá. (ex: reuniões,
cursos, palestras, oficinas, dinâmicas de grupo, eventos,
feiras, tudo isso poderia ser feito lá). Seria importante
darmos prioridade aos equipamentos que vão gerar renda
para o Tibá se autosustentar. Assim sendo, outro equipamento
que teria prioridade seria o espaço destinado ao trabalho
dos Tibaenses, bem como a cozinha semi-industrial e o regeitório
para atender moradores e visitantes, já que receber pessoas
de fora para cursos e visitas será uma das alavancas principais
para a sustentabilidade econômica do Tibá.
Para isso, seria importante manter uma pequena casa na cidade,
que teria função não apenas de servir de
"base" aos tibaenses, mas ser um ponto de contato entre
o Tibá e a comunidade local. Inicialmente, enquanto existir
apenas a Casa Mãe, ela poderia abrigar a administração,
recepção, biblioteca, internet e até mesmo
ser usada como local de trabalho.
Para definir o projeto da Ecovila, vamos nos valer dos princípios
da Permacultura, que é um sistema de design para a criação
de ambientes humanos sustentáveis. Ela lida com animais,
plantas, edificações e infraestruturas estabelecendo
relacionamentos entre eles através da forma de colocá-los
no terreno. O objetivo é a criação de sistemas
ecologicamente corretos e economicamente viáveis, com um
mínimo de trabalho humano e o máximo de benefício.
Três parâmetros definem a ética da permacultura:
1- Cuidado com o planeta Terra - cuidado com todas as coisas
vivas ou não: solos, espécies, atmosfera, florestas,
águas, animais, microhabitats, etc.
2- Cuidado com as Pessoas - cuidado com as necessidades básicas
de abrigo, alimentação, educação,
trabalho satisfatório, contato humano saudável,
lazer, respeito e valorização das funções
de cada um.
3- Partilha dos excedentes - cuidados com a distribuição
de excesso de tempo, dinheiro e materiais para se atingir esse
fim.
Em relação a Arquitetura do Tibá, serão
elaboradas diretrizes de construção de maneira a
fazer uso de tecnicas construtivas que preservem o ambiente ou
causando a menor agressão ambiental possível. Os
projetos das edificações irão passar pela
aprovação de uma comissão especializada formada
por integrantes do Tibá.
Para tanto ofereceremos aos Tibaenses orientação
no uso das técnicas de bioarquitetura que utilizem materiais
e recursos renováveis, tais como: construção
com terra (adobe, superadobe, COB, solocimento, taipa, etc.),
bambus, energia solar para aquecimento, eólica, captação
e armazenamento de água dos telhados, reaproveitamento
das águas servidas (água cinza), sanitários
compostáveis para transformação do esterco
humano em composto orgânico, compostagem, etc.
Pessoal,
Acho que ainda precisa amarrar melhor, para isso pediria que vcs
colocassem aquilo com o que não concordam, acrescentassem
coisas que eu esqueci ou que passei meio "por cima".
O Dion enviou há algum tempo um questionário de
equipamentos para que cada um marcasse o que gostaria de ter no
Tibá. Acho super importante que cada um faça uma
reflexão sobre isso e responda. Dion, ainda estão
faltando os "chutes", isto é, quantificar isso
tudo. Vou tentar fazer um desenho em escala para ver se consigo
chutar melhor, tá bom? Vc tem outra sugestão???
beijocas, Clara