Resenhas do Saulo
Resenha sobre a relação de livros: Como o site pretende
ser uma contribuição ao pessoal da Ecovila TIBÁ
e das Ecovilas, em função de minhas pesquisas teórica,
metodológica, de modo intermitente a partir de 1977, sobre
as Ecovilas, tendo realizado tbm pesquisas empíricas e
práticas: vivendo em Ecovilas no Brasil e na Alemanha,
algo que observei, constatei, sobretudo com o pessoal mais jovem,
mais ativista, é que parte das pessoas que vive neste universo
apreende esse mundo mais a partir de vivências diretas.
Significa que, com menor reflexão teórica (o que
não é o caso de vocês que percebo muito interesse,
inclusive que motiva esse e-mail), apreende o mundo através
das formas de pesquisa empírica e prática. Nesses
casos, fica portanto, faltando uma parte da práxis (teoria
+ prática), essa porção da reflexão
que considera não apenas o próprio conhecimento
obtido através da sua experiência pessoal privada,
empírica e prática, mas também o conhecimento
acumulado da humanidade na forma de conhecimento teórico
e metodológico. Em função dessa lacuna uma
sugestão que posso oferecer aos participantes do nosso
grupo de Ecovila, é a de um aprofundamento da teoria explicativa
do mundo que nós contestamos e queremos mudar. Uma vez
que quem quer mudar o mundo e /ou viver melhor nele é necessário
compreendê-lo. Nesse sentido faço uma sugestão:
1) Uma relação dos livros significativos que já
foram editados para a emergência e desenvolvimento das Ecovilas.
Envio-lhes uma relação agora. Se desejam podem agrega-la
à bibliografia on-line que vocês oferecem no site
da Ecovila TIBA: uma relação de livros mais significativos
para a cultura, para o paradigma das Ecovilas. Por exemplo, uma
relação dos livros essenciais que sejam um certo
consenso na sua contribuição em explicar e desenvolver
o movimento das Ecovilas.
Minha sugestão de bibliografia, com alguns comentários
sobre cada livro é a seguinte:
Como expresso no passado nós as denominamos no Brasil de
Comunidades Alternativas.
I) TAVARES, Carlos A. P. 1985. O Que São Comunidades Alternativas.
São Paulo : Nova Cultural/ Brasiliense.101pag. R$9,00 (
R$ 4,00 em sebos )
Sintese.
No marasmo e autodestrutividade dominantes, as comunidades alternativas
surgem, crescem e propagam uma nova maneira de viver. Valores
totalmente novos, totalmente distintos daqueles provenientes dos
estilos de vida e práticas de consumo da civilização
industrial.
II) FRITJOF, Capra. 1981. O Ponto de Mutação.- A
Ciência, A Sociedade e a Cultura Emergente. São Paulo
: Editora Cultrix. 445 pag. R$28,00 ( R$15,00 em sebos)
Síntese.
Os anos 60 e 70 gestaram e desenvolveram uma série de movimentos
sociais - Ecológico, feminista, hippie, de comunidades,
de negros, das novas religiões, entre outros - que parecem
caminhar, todos, na mesma direção, enfatizando diferentes
aspectos da nova visão da realidade. Até agora esses
movimentos ainda operam, em parte, separadamente, eles ainda não
reconheceram que suas intenções se inter-relacionam.
"A finalidade deste livro é fornecer uma estrutura
conceitual coerente que ajude esses movimentos a reconhecer as
características comuns de suas finalidades. Assim que isto
acontecer, podemos esperar que os vários movimentos fluam
juntos e formem uma poderosa força de mudança social.
A gravidade e a extensão global de nossa crise atual indicam
que essa mudança é suscetível de resultar
numa transformação de dimensões sem precedentes,
um momento decisivo para o planeta como um todo " ( p.14).
III) ILLICH, Ivan. 1976. A convivencialidade. Lisboa: Editora
Europa - América. Hoje em grandes Bibliotecas, ou em sebos.
Aprx. R$15,00 (nos sebos).
Síntese.
Ivan Illich, hoje um dos participantes, líderes de uma
comunidade próxima à cuernavaca no México,
ex- padre católico, foi expulso pelo papa da Igreja por
suas idéias revolucionárias, realizou em sua trajetória
de cientista, como professor e pesquisador, inclusive universitário
uma das críticas mais contundentes e profícuas à
civilização industrial neste século, com
propostas reais de solução dos problemas criados
por essa civilização. As pessoas que exercitam a
vida comunal – Ecovilas, comunas, comunidades intencionais,
Kibbutzins, etc, bem como os atores dos movimentos sociais contestatórios
na década de 70 e ainda hoje têm na ciência
produzida por Illich uma das fontes de inspiração
e fundamentos mais significativos.
Para Illich a substituição progressiva dos bens
e serviços de valor de uso pela produção
de mercadorias, a criação de necessidades fictícias
que alimentam e são alimentadas pelas organizações
de serviços hipertrofiadas, a difusão de uma “versão
moderna da pobreza” são os efeitos da contínua
autodissolução de uma sociedade que já atingiu
o nível máximo da produção de massa
:
“a natureza esta desnaturada. Desenraizado, castrado na
sua criatividade, o homem esta fechado na sua própria cápsula
individual” (p.11 e12 ).
A solução proposta (e posta em práxis por
ele ) é a criação de um contexto grupal/
social no qual todos os indivíduos possam utilizar de modo
convivial os instrumentos aptos à criação
de bens e serviços. ( P. 49) . Todos deveriam estar em
condições de produzir os próprios valores
de uso segundo as suas necessidades reais, subtraindo assim do
monopólio dessa casta dos especialistas, seja no que diz
respeito à utilização de tais instrumentos,
seja no que diz respeito ao seu controle e à planificação
dos recursos disponíveis.
A transformação generalizada dos meios (as mercadorias)
em fins (o seu domínio) deve, portanto, ser objeto da atenção
de todos aqueles que não se conformam com a dissolução
e o profundo aviltamento dos pressupostos da vida humana. Para
esses ele sugere uma “busca radical”.
Essa “busca radical” tem dois aspectos ou dois momentos:
“no estudo da crescente inutilidade marginal e das ameaças
geradas geradas pelo desenvolvimento”(P.134). Como base
no nosso estudo, poderemos dedicar-nos a “descobrir os sistemas
e as instituições que otimizam os modos de produção
radical ” (p. 134).
... "Com base em um conhecimento da produção
radical podemos produzi-la e iniciar um processo de desacostumarmo-nos
das condições industriais de vida, abrindo o caminho
em direção a um modelo de vida na medida do homem".
O que é uma necessidade, em decorrência de que :
“Os nossos sonhos estão padronizados, a nossa imaginação
industrializada, a nossa fantasia programada”
Illich (1973,30).
Caímos presas do consumismo, tornamo-nos aprisionados no
paradigma.
Consumismo. São essas “nossas” “necessidades”,
criadas artificialmente que hoje geram/ desenvolvem o que chamamos
os estilos de vida e práticas de compras. E como nunca
conseguimos satisfaze-las, - elas são criadas sempre em
maior escala, o capital “precisa” crescer, acumular
- podemos desse modo perceber que a nossa carência é
industrializada - é criada artificialmente.
“ Uma figura da mitologia grega bem ilustra esse pesadelo.
Tendo sido convidado a participar do festim dos deuses, Tântalo,
rei da Lídia, porém apenas um mortal, lhes furta
da mesa a Ambrosia, alimento dos deuses que segundo a mitologia
seria o que lhes permitia permanecerem imortais. Tântalo
torna-se imortal. Como castigo os deuses lhe concedem a imortalidade,
porém, nos infernos, onde ele é permanentemente
presa da fome e da sede. As águas do rio somem no momento
que ele se curva sobre elas, o ramo da arvore eleva fora de seu
alcance o fruto que ele quer colher."
A sede e a fome de Ambrósia são hoje experimentadas
pelo comum dos mortais, no pesadelo de uma sociedade que eufemísticamente
chama de “revolução das expectativas crescentes”
ao abismo sempre mais profundo da frustração também
crescente diante aceitação, apática, ilusória,
inconsciente do mito da felicidade como acesso à crescentes
níveis de consumo.
É o que acontece quando os produtores e seus associados
acreditam e induzem – todos nós e eles, produtos
do paradigma - , através de múltiplas formas, a
eles próprios e aos outros componentes da sociedade que
gastem sempre mais para adquirir o que é “determinado”
industrialmente como necessário, a despeito do fato de
que toda nova aquisição traz um acréscimo
de sofrimentos.
“A aspiração de ter asfixia a esperança”.
Com a industrialização do desejo e a ritualização
operacional das reações das pessoas, a hybris se
tornou coletiva e a sociedade industrial é em grande parte
a realização material do pesadelo. Pesadelo porque
não se alcança, não se realiza socialmente
o que se é ensinado, induzido e programado para desejar.
E pesadelo porque quando parte da sociedade consegue realizar
acríticamente esses desejos de níveis elevados de
consumo social, o próprio desejo e sua realização
levam ao biocídio.*
Em “seus” anseios de consumismo as pessoas são
programadas, induzidas à procura sempre de modelos novos
dos produtos e serviços.
“Desse modo a sorte da humanidade em sua esmagadora maioria
é bastante má. O modelo novo produz uma nova pobreza.
O consumidor, o usuário, ressente-se duramente da distância
que existe entre o que tem e “o que seria melhor ter”.
Mede o valor de um produto pela sua novidade e presta-se a uma
educação permanente com vista ao consumo e ao uso
da inovação. Nada escapa à usura, nem sequer
os conceitos. A lógica do “sempre melhor” toma
o lugar da do bem como elemento estruturante da ação.
Uma sociedade empenhada na corrida em direção ao
maior bem-estar sente como ameaça a simples idéia
de qualquer limitação ao progresso. Então,
o indivíduo que não muda de objetos conhece o rancor
do fracasso e aquele que muda descobre a vertigem da carência.
Aquilo que tem repugna-lhe, aquilo deseja ter deixa-o doente.“
Iliich (1973)
E afinal, Como romper o círculo? Como Libertar-se?
" É necessário fazer a pergunta: Quem me agrilhoa,
quem me habitua às suas drogas?
Fazer a pergunta é já responder-lhe. É libertar-se
da opressão do sem – sentido e da carência,
reconhecendo cada qual a sua própria capacidade de aprender,
de se mover, de se cuidar, de se fazer entender e de compreender.”...”
A carência que a sociedade industrial mantém com
esmero não sobrevive à descoberta que mostra como
as pessoas e as comunidades podem, por si mesmas, satisfazer as
suas verdadeiras necessidades.” Illich (1973,36).
Genial moçada?
IV) SCHUMACHER, Fritz. 1973. O negócio é Ser pequeno.
( Small is Beautiful) Rio de janeiro : Zahar Editores.
V) FRITJOF, Capra. 2002. As Conexões Ocultas -Ciência
Para Uma Vida Sustentável-. São Paulo : Editora
Cultrix/ Amana-Key. 296 pag. R$ 38,00 ( Não creio que seja
encontrável em sebos)
Inclusive pode ser interessante que se participe qdo. possível
dos ENCAS - Encontro Nacional das Comunidades Alternativas/ Aqüarianas-
Esse ano vai haver o 28¾. ENCA. Tem muita loucura, mas é
uma festa boa.
E os e-mails das Ecovilas mais antigas, o pessoal da prática
tem muito a ensinar:
Eknath, o Ed da Frater lá em Pirenópolis GO, com
mais de 25 anos de Ecovila. Podem escrever para ele, que ele vai
ficar feliz de poder dar uma força, de ajudar, de participar.
e-mail: Frater Unidade <fraterunidade@yahoo.com.br>
Tem o pessoal da Chapada Diamantina, de Alto Paraíso de
Goiás, ... Mas esse é outro papo.
Do Amigo,
Saulo Xavier
sauloxavier@uol.com.br
(92) 9162-6648