Debate sobre Pessoa Juridica
Contribuição do Saulo (postada na
lista)
-"Criar uma ONG me parece muito bonito, mas não é
necessariamente prático."
- "Eu estou apostando em ter pelo menos três pessoas
jurídicas. Uma ONG, para captar/ gerar recursos para a
ecovila., uma PJ ainda não definida para a posse da terra
e talvez uma terceira para gerir os serviços oferecidos
pela ecovila aos seus moradores (tipo condomínio)".
Para mim essa questão pode ter uma resposta pode ser simples,
no entanto, vale umas qualificações:
Os processos de existência e formação das
Ecovilas são múltiplos e variados. No entanto, várias
práticas e elementos são comuns à maior parte
elas. Na historia das comunidades - é esse o nome mais
histórico delas -, processo que tem História longa.
Por exemplo já vi referência na literatura que nos
EUA há comunidades, embora com interrupções,
de 400 anos de existência. Esse processo histórico
levou há múltiplos aprendizados.
Relativamente aos objetivos: Se há um consenso na literatura
é que objetivo mais amplo das comunidades é a busca
de "Uma vida melhor"
" Geoph Kozeny, um bem reconhecido participante (vivendo
e estudando) Comunidades sintetizou a intenção de
múltiplos grupos de comunidades pela observação
participante. 'Em visitas de pesquisa em centenas de comunidades,
eu cheguei a concluir que todos participam esse algo em comum:
Cada uma delas esta baseada na visão de uma vida melhor'
" In Metcalf (1996,13).
E por que saber os objetivos das comunidades?
Por que os movimentos de grupos que vão formar essas comunidades
muitas vezes partem de estudos e pesquisas para poder compreender
as origens de seus problemas vividos na sociedade mais ampla e
formular objetivos com base numa compreensão nas origens
dos problemas. Desse modo pode-se evitar as práticas que
conduzem aos problemas. Boa parte das conclusões dessas
pesquisas, parte inclusive com a qual eu concordo, concluiu que
a origem dos problemas sociais e ecológicos que nós
vivemos esta no modo como se estrutura a nossa sociedade.
Qdo. se aprofunda as origens desses problemas se percebe que a
propriedade privada é uma das fontes de poder, de desigualdade
social e de incentivo as diferenças, ao individualismo
e outros problemas desses decorrentes, numa comunidade qualquer.
Em função desse conhecimento as comunidades tentaram
historicamente soluções radicais como abolir a propriedade
privada. Outras foram mais adiante, por exemplo na Alemanha conheci
uma comunidade que aboliu família. Os filhos e as pessoas
eram de todos.
Essa abolição absoluta da propriedade inclusive
das pessoas resultou em problemas. Num processo Histórico
tentaram-se várias alternativas que não faz sentido
aprofundar nesse e-mail. Relativamente à propriedade privada
parece-me que o é dominante hoje são as soluções
mistas. Propriedade privada para parte dos bens da comunidade.
E propriedade comunitária para outra parte. Nessa parte
que é de domínio comum, de propriedade comum, costuma-se
ter cozinha/ restaurante coletivo para uma parte das refeicões,
e boa parte das áreas de produção: agropecuária
para comunidades rurais e dos trabalhos para para os outros tipos
de organização comunitária. Por exemplo The
FARM nos EUA tem uma companhia construtora de base ecológica
e tb produção de alimentos.
Num momento posterior agora já nas décadas de oitenta
e noventa do século XX algumas comunidades mais organizadas
e que trabalham com educação e sustentabilidade,
acompanhando um movimento geral da sociedade civil global, tornaram-se
instituições do Terceiro Setor: ONGs, Institutos,
Fundações, Associações, etc. Na década
de noventa num movimento liderado pela The FARM dois processos
se juntaram ao processo Histórico mais geral de existência
das Comunidades: I) A formação de uma rede global
a Global Ecovillage Network; e II) a auto denominação
das comunidades de Ecovilas. Parte dessas Ecovilas que tornaram-se
instituições do Terceiro Setor captam recursos para
trabalhar com sustentabilidade. Não disponho de dados estatísticos
para expor que percentual das comunidades organizadas como instituições
do TS trabalham com captação de recursos. Esse é,
inclusive um dos itens de minha pesquisa agora a partir de setembro
na Europa. Creio no entanto que não é o dominante.
Porque parte das comunidades é fechada ao mundo externo
e porque exige-se qualificação conhecimento e informação
para esse propósito de captar recursos. Portanto, embora
essa não seja uma atividade difícil, em função
de que é muito nova e especializada, são raros participantes
e estudiosos de comunidades que trabalham com captação
de recursos.
Creio que uma Ecovila pode destinar uma parcela de áreas
e atividades comuns para objetivos de relacionamento com o mundo
circundante na forma de educação, por exemplo e
tornar essa área uma instituição do Terceiro
Setor. Uma vez que as atividades desenvolvidas podem ser para
promoção da sustentabilidade da sociedade em áreas
de educação, saúde, alimentação,
vestuário, artesanato, habitação, direitos
humanos, lazer (música, teatro, dança, literatura,etc.),
energia, entre outras, então pode-se captar recursos para
desenvolver essas atividades. E esses recursos existem no planeta.
Há hoje um movimento mundial da sociedade civil planetária,
inclusive que em parte é acompanhado por empresas, (neste
caso, de modo genuíno ou apenas para sua publicidade visando
ganhar consumidores) movimento que vcs que estão em São
Paulo podem se desejarem, perceber na mídia e nas ações
sociais em geral, movimento que comento rapidamente:
A resistência sócio-política da sociedade
civil planetária constituída de comunidades globais
de estudiosos e ativistas pode ser dividida em três conjuntos
que aprecem ser o foco de atenção das maiores e
mais ativas coligações de movimentos populares e
são três grupos de temas conceitualmente interligados.:
O primeiro é o desafio de remodelar as instituições
e as regras da globalização;
O segundo é a oposição aos alimentos transgênicos
e a promoção da agricultura sustentável;
E o terceiro é projeto ecológico (ecodesign) - um
esforço conjunto de redifinição das nossas
estruturas físicas, cidades, tecnologias, e indústrias
de modo a torná-las ecologicamente sustentáveis;
Capra (2002, 231).
A sustentabilidade ecológica é um elemento essencial
dos valores básicos que fundamentam a mudança da
globalização. Por isso, vários várias
ONGs, institutos de pesquisa e centros de ensino pertencentes
à nova sociedade civil global escolheram a sustentabilidade
como o tema específico de seus esforços. idem (p.237).
Para atingir a sustentabilidade necessitamos criar comunidades
sustentáveis. Dois conjuntos de práxis emergem aqui:
A alfabetização ecológica; e o segundo é
o projeto ecológico. A alfabetização ecológica
consiste na compreensão dos princípios de organização
que os ecosistemas desenvolveram para sustentar vida . Projeto
ecológico diz respeito a " aplicação
de nossos conhecimentos ecológicos a uma reformulação
fundamental de nossas tecnologias e instituições
sociais, de modo a transpor o abismo que atualmente separa as
criações do ser humano dos sistemas ecologicamente
sustentáveis da natureza." Ibdem(p.241).
Felizmente para CAPRA (2002, 241) com quem eu concordo, esse MOVIMENTO
em direção à sustentabilidade já esta
ocorrendo. É nesse movimento global que se inserem as Ecovilas
como paradigmas mais completos de recriação social
e como construção de mini-universos melhores e esperança
de que construir "Um outro mundo," melhor "é
possível."
Mas para que uma mudança real aconteça é
necessário que a idéia de Ganhdi falou para nós
se realize:
" Seja você a mudança que espera ver no mundo"
Agora, voltando e concluindo nossa questão original que
gerou esse e-mail:
- "Eu estou apostando em ter pelo menos três pessoas
jurídicas. Uma ONG, para captar/ gerar recursos para a
ecovila., uma PJ ainda não definida para a posse da terra
e talvez uma terceira para gerir os serviços oferecidos
pela ecovila aos seus moradores (tipo condomínio)".
Creio que três é demais. Dois tipos de organização
podem ser suficientes. As propriedades privadas individuais como
propriedade privadas individuais. E, uma área comum destinada
a atividades sociais e ecológicas do grupo que compõe
a Ecovila. Essa porção comum seria a instituição
do Terceiro Setor para trabalhos com desenvolvimento sustentável
e aí pode-se desenvolver uma instituição
do Terceiro Setor.
No entanto, sugiro consultar um especialista. Em São Paulo
tem bastante gente especializada nesses temas, para o Terceiro
Setor em geral. Para Ecovilas, ....????