Debate: automóvel x transportes coletivos
e alternativos
Esta mensagem foi originalmente mandada na lista
bicicletada@yahoogrupos.com.br, por Marcos Humberto Vieira. Adiciono
uma nota minha: 80% da população brasileira é
urbana, ok; mas 60% mora em cidades com menos que 60.000 habitantes.
Faz sentido ônibus e metrô em cidades deste porte?
Boa leitura,
Dion
"Fumar faz mal à saúde", "Fumar causa
câncer", "Fumar provoca impotência"
...
Quem viveu, viu !!!
Quem diria ...
A indústria tabagista durante anos ajudou, com a tributação
dos cigarros, a
sustentar os gastos do governo. Mas o mesmo dinheiro que entrava
de um lado,
saía do outro, gasto com o atendimento das pessoas que
encontravam no fumo o
seu calvário ...
Pois é, a indústria automobilística e petrolífera
são atualmente uns dos
alicerces das economias "modernas", mesmo com todo o
prejuízo social,
ambiental que provocam. Engarrafamentos, poluição,
acidentes, invasão de
espaço, degradação do meio ambiente, sedentarismo,
guerras são uma pequena
amostra dos problemas que estamos enfrentando por mantermos em
plena
capacidade de funcionamento estas indústrias.
Ao priorizar o automóvel como meio de transporte individual
e única
alternativa para os deslocamentos urbanos, ano após ano,
vimos as cidades se
transformarem em corredores de automóveis, onde se escasseiam
os espaços das
pessoas, transformados em estacionamentos, avenidas, viadutos
... À medida
que as pessoas fogem para mais longe, mais necessitadas se sentem
dos seus
automóveis, o que alimenta esta roda-viva.
"Andar de carro faz mal à saùde", "Use
seu veículo com consciência",
"Automóvel causa poluição" ...
Quem viver, verá !!!
Vai ser chegada a hora em que o governo, pressionado pela falta
de opções,
terá que se render à completa falência do
sistema viário urbano nas grandes
cidades, e propor uma mudança de mentalidade na população,
não para dar fim
ao automóvel, pois sabemos muito bem que este continuará
sendo usado e
cultuado, mas pelo seu uso racional.
Não queremos o fim deste ou daquele meio de transporte,
pois todos têm o seu
espaço, sua utilidade. O que queremos é a possibilidade
de escolha, a
convivência harmônica, o debate, as soluções.
Acreditamos que na cidade do século XXI têm espaço
para o transporte
coletivo, os transportes alternativos, os automóveis com
energia "limpa"
(ar, eletricidade, etc) e até mesmo os poluidores automóveis
de combustível
fóssil ...
Segue abaixo algumas mensagens trocadas sobre este assunto. O
importante é
não radicalizar. Eu acho.
Abraços
Marcos
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Para contextualizar: repassei num lista aqui do BC esta notícia:
"Iniciativa dos ministérios do Meio Ambiente e das
Cidades e o Instituto da
Mobilidade Sustentável Ruaviva pretende mobilizar as cidades
brasileiras
para que, em 22 de setembro, restrinjam o trânsito de automóveis
em suas
zonas centrais"
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=11570
aí o cara respondeu assim:
================= início da transcrição ===================
-----Mensagem original-----
De: axxxxx.xxxxx@bcb.gov.br
Enviada em: sexta-feira, 22 de agosto de 2003 06:17
E é com este tipo de besteira que gastam os impostos que
eu pago? Tenho
minhas origens na área dos Transportes, fui da EBTU e realizamos
inúmeros
estudos sobre a questão. O fato é que as cidades
terão de se ajustar aos
meios de transportes, pois as tentativas de proibir a circulação
de veículos
particulares, a medio prazo, são infrutíferas. O
verdadeiro problema está no
péssimo planejamento urbano, no inexistente planejamento
de vias de
circulação, na exuberante especulação
imobiliária. Mesmo na Europa, este
tipo de movimento só sobrevive porque o evento dura apenas
um dia, por
poucas horas.
=================== fim da transcrição
========================
Pois então.
Aí eu vi a besteira que o cara falou sobre cidades e transporte
e mandei
ver!! Disse que eu também pago impostos e acho que estão
sendo muito bem
gastos com a campanha. Que se o problema é de planejamento
urbano, como explicar Brasília, cidade totalmente planejada,
cidade feita
para automóveis, onde os carros já invadem os gramados
e engarrafamentos são
rotina?
Lembrei as cidades históricas (Ouro Preto, Tiradentes,
Goiás, Parati,
Olinda) que, com mais de 200 anos, não foram feitas para
automóveis. Então
devemos derrubar casas, construir estacionamentos, avenidas de
4 vias,
viadutos e elevados, e asfalto em todas as ruas, para que os motoristas
possam "sentir o prazer de dirigir"? perguntei na lista.
Aí os colegas A.V. e L.L. responderam:
================== início da transcrição
======================
-----Mensagem original-----
De: axxxxx.vxxxx@bcb.gov.br
Assunto: [starnet] RE: As cidades e os automoveis
Não se trata de crítica pessoal, se assim tiver
sido entendido, minhas
desculpas. Mas os estudos da extinta EBTU eram bastante realistas.
O exemplo
de Brasília fala por si. Cidade planejada para a era do
automóvel, foi
descaracterizada pelo péssimo planejamento urbano (basta
ver o Setor
Comercial Sul, as modificações dos Comércios
Locais, a permissão para que
vários estabelecimentos comerciais de grande afluência
- restaurantes,
bares, boates etc - se instalem, sem considerar o impacto no sistema
viário
e a existência de vagas para estacionar, isto para não
falar da destinação
da área. Não se pode, igualmente, desdenhar a importante
contribuição da
especulação imobiliária, inclusive no lado
sombrio, com a criação ilegal de
condomínios variados, por meio de grupos organizados que
somente agora são
chamados a dar explicações sobre os maus passos
dados.
A cidade (vila) era do homem (vilão) até a Idade
Média, quando as pessoas
raramente viajavam a distancias superiores a 40 quilômetros
(as
peregrinações e cruzadas eram outro assunto, e minoria).
Com o
desenvolvimento dos meios de transporte - a popularização
da carroça, a
carruagem (particular e pública), e finalmente com a popularização
do
automóvel, do trem urbano, e dos meios de transportes coletivos,
as cidades
puderam crescer. Quem o desejar que experimente : imagine andar,
todo dia,
cerca de 20 ou 30 quilômetros até o local de trabalho,
mais alguns para
buscar os filhos no colégio etc. É certo que são
usados os meios de
transporte de massa, mas em que condições? O metrô,
ainda incipiente, para
de funcionar às 20:00 horas, salvo engano. Os (Deus nos
proteja) ônibus
urbanos (e, a propósito, os interurbanos e interestaduais)
são uma
catástrofe em busca de uma oportunidade. E cerca de 75%
da população urbana
(80% da população brasileira é urbana) é
cativa do transporte coletivo
urbano, para atividades básicas, tais como trabalho, saúde,
compras etc.
Quem pode, andará de automóvel. Além disso,
a industria automobilística é
importante fonte geradora de empregos (diretos e indiretos) e
de impostos.
Estes são apenas alguns dos vários argumentos.
-----Mensagem original-----
De: lxxxxx@senado.gov.br
Assunto: [starnet] Arruma espaço na Van
Concordo com o amigo Axxxx, companheiro dos aúreos tempos
da saudosa EBTU,
onde também trabalhei durante longos anos de minha vida,
antes da sua
extinção no govero Collor.
Os iluminados do Ministério do Meio Ambiente não
devem conhecer bem Brasília
para propor uma asneira dessas.
Fica difícil imaginar os deslocamentos de nossos lares
para o Congresso
Nacional ou para o Banco Central do Brasil,
usando os ônibus do seu Canhedo, a pé, de bicicleta,
ou os tranportes
alternativos, deixando nosso automóveis na garagem.
Arruma espaço na Van (Ed Motta).
Quero de volta os impostos que eu pago, e que pagam os salários
desses
barnabés!
==================== fim da transcrição
=======================
Bem... vocês podem ver que não são
argumentos, né? Na verdade são desculpas
para justificar o uso do automóvel, do conforto, etc e
tal.
É um círculo vicioso: as pessoas não usam
transports coletivos urbanos
porque são ruins, daí o governo não investe
porque não há demanda - nem
classe média/alta reclamando! - e os ônibus pioram
e as pessoas não usam etc
etc etc.
Como sempre, a "elite" invade o espaço urbano
com automóveis e mais
automóveis, os "pobres" que se lixem e andem
de buzu e a cidade vira um
caos.
Alguma coisa tem que quebrar este círculo!
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